O homem da hidroponia é da Zona Oeste

Já ouviu falar em hidroponia? É a técnica de cultivo de vegetais, onde suas raízes, ao invés do solo, ficam em contato com a água enriquecida de nutrientes. Nessa técnica, são produzidas hortaliças de forma rápida, muito saudável e com uma economia de 70% de água e sem o uso de defensivos agrícolas. Essa técnica vem sendo cada vez mais aplicada em escolas no Rio de Janeiro, em especial na Zona Oeste, graças ao trabalho de um apaixonado professor que vem difundindo a técnica na região.

O Professor Lúcio Teixeira, Licenciado em Ciências Agrícolas pela UFRRJ, em 1977, também Técnico agrícola, formado no Espírito Santo, é um dos últimos professores de Técnicas Agrícolas da Prefeitura do Rio de Janeiro, disciplina que foi extinta há alguns anos da rede municipal. O Professor é uma da referências nacionais em hidroponia e vem contribuindo muito com a disseminação dessa arte que ainda é pouco conhecida em nosso país.

Ele conheceu a hidroponia em 1998, quando trabalhava no Escola Municipal Jornalista Carlos Castelo Branco, em Paciência, através de um artigo em jornal. Apaixonado pelo tema, ele foi até Miguel Pereira conhecer um japonês que já fazia o projeto aqui no Brasil. Vendo que seria possível trazer isso para a realidade da escola, começou a estudar mais sobre o assunto. Em 1999, um empresário de Paciência patrocinou todo o projeto. Porém, teria que ser no seu haras, no mesmo bairro. Com material reciclado, madeiras de eucalipto, perfis de escada cogumelo, trazendo e levando os alunos de carro da escola até o haras, foi realizando o projeto “aos trancos e barrancos” e, conseguiu produzir os primeiros produtos hidropônicos.

No ano seguinte, o empresário permitiu que transferisse o que fosse possível para a escola jornalista  Carlos Castelo Branco, e assim começou a construir a primeira estufa hidropônica escolar da Cidade do Rio, com de 84m². Depois de um certo tempo, foi criado o Polo de Educação para o trabalho (PET), com verba própria e mais autonomia. Com pesquisas, congressos, visitas a outras hidroponias que existiam e leituras.

O carismático Professor, hoje, trabalha na Escola Municipal João Gualberto Jorge do Amaral, em Paciência e no Ciep Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, em Campo Grande, onde desenvolve o trabalho de hidroponia e horta orgânica com os alunos das unidades. Além disso, o Mestre coordena outras estufas nas escolas: Charles Dickens, Ernesto Nazareth, Paulo Maranhão, Colégio Estudual Raja Gabáglia, todas na Zona Oeste. Além do Espaço Ciência Viva, na Tijuca. “Além das escolas, existem pequenas e variadas estufas de ex-alunos, professores aposentados, trabalhadores de escolas e alguns contatos com as escolas em que trabalho. Existe, também, uma estufa em Recife, Pernambuco. Temos algumas estufas a serem construídas, em fase de estruturação econômica. Cada direção procura uma forma de direcionar para o projeto recursos possíveis. Negociando com o CEC (Conselho Escola Comunidade) da escola, doações de lojas de materiais, empréstimos de outras escolas mais estruturadas, doação de professores simpatizantes com o projeto, e outras formas possíveis de transferência de recursos”, Conta o orgulhoso Professor.

O destino da produção, cada escola decide: são distribuídos entre os alunos da escola, principalmente os alunos que fazem a oficina, vai para alimentação na refeição dos alunos na merenda escolar, doa-se para visitantes das escolas, CRE, Secretaria de Educação, doação para os professores e trabalhadores nas escolas. Sem sombra de dúvida, a merenda fica muito mais nutritiva e empolgante, já que os alunos consomem aquilo que eles mesmos plantam!

A demanda por novas estufas não para de aumentar na região

“Quando a escola tem a intenção de fazer uma estufa hidropônica, entra em contato comigo, vou ao local para observar a posição do Sol e quanto tempo de sol as plantas ficariam expostas, vento, local apropriado, tamanho da estufa, pessoas que serão treinadas por mim e que ficarão responsáveis pelo projeto, condições financeiras de cada escola, se tem morador, falta de luz, tipos de pisos para a estufa. Em algumas escolas, tenho a colaboração dos professores da própria unidade em mutirão, como foi o caso da Charles Dickens e Raja Gabáglia”, conta Lucio Teixeira. A continuidade do projeto é dada pelos professores treinados pelo Hidroponista. Segundo o próprio professor, as dúvidas vão sendo sanadas por aplicativos de mensagens e visitas peródicas

Uma Sala de aula viva

Além da produção de alimentos de forma rápida e saudável, a hidroponia escolar é uma grande aliada dos professores na fixação de conteúdos, principalmente de Ciências, no ensino fundamental e de Biologia e Química, no ensino médio. Acaba virando um laboratório, onde se vivencia na prática aquilo que se aprende em sala, tornando cada sala uma nova descoberta!

Por Luciano Tadeu