Cláudio Medeiros é Bangu!

Ser Bangu
Quando me perguntam o que é ser Bangu, respondo que ser Bangu transcende torcer para o alvirrubro da Zona Oeste. Ser Bangu é sair de casa para ir ao comércio central do bairro e dizer: “Vou lá fora”. Ser Bangu é amar o sol, o calor. Ser Bangu é andar de bicicleta e a pé pelas ruas, é buscar uma sombra nos dias de verão, e não achar, pois o sol é companheiro até de noite. Ser Bangu é lembrar do hospital de tuberculoso, da garagem de bicicletas na rua Fonseca, de ter feito pesquisa escolar na biblioteca da Silva Cardoso, de ter atravessado o “buraco do Ubaldo”, de cortar caminho pela Superlar ou Casas Bahia. Ser Bangu traz à memória a charutaria na Cônego, a fila gigantesca do frango assado da rua 12, o “rio de tintas” da Barão.
Ser Bangu é ter nascido na Santa Helena e/ou pelas mãos do Dr. Jesus. Ser Bangu é ter sido batizado ou celebrado o casamento na São Sebastião e Santa Cecília, a “igreja vermelha no meio da rua”. Ser Bangu é ter lembranças do Santa Rosa, do Pe. Mário e do Pastor Renato. Ser Bangu é ter tido medo do “amolador de facas”, do “Tião maluco” e do velho do saco. Ser Bangu é ter apertado as campainhas e fugido em uma disparada que poria até o Bolt para trás. Ser Bangu é ter tomado banho no açude e no chafariz do largo. Ser Bangu, ah!!!! Ser Bangu é ter conhecido a Shirlei, o MagalhãeZZZ e o senhor da bicicleta que torcia para o América. Ser Bangu é ser cliente da sapataria Marli, da Scotbel e da Estética. Ser Bangu é ter bebido um chope gelado no Lula, comprado um pão quentinho na Mercúrio.
Ser Bangu é ser amigo ou parente de alguém que trabalhou na Companhia Progresso Industrial do Brasil, nome pomposo, mas, para nós, apenas Fábrica Bangu. Ser Bangu é saber que Tecelões, Chita, Fiação, Estampadores e Tintureiros são bem mais do que ruas, são seções da indústria responsável pelo sustento de grande parte de nossa gente em tempos idos. Ser Bangu é ter o shopping com a fachada mais linda do Brasil. Ser Bangu é ter saudades dos filmes no Vitória, Hermida e Matilde. Ser Bangu é ter a plena certeza de que foi aqui, sim, aqui que nasceu o football no território brasileiro. Ser Bangu é admirar a estátua de Thomas Donohoe e o busto de Domingos da Guia. Ser Bangu é já ter frequentado até o raiar do dia o baile do vermelho e branco. É ter sido sócio do Casino Bangu e ter conhecido o Pingo, o Cientista, e o Carlota Liz.
Ser Bangu é ter comprado no Leão, nas Casas da Banha, Sendas, Disco, Paes Mendonça, Rainha e, em tempos ecologicamente corretos, usado sacolas de papel. Ser Bangu é ser amigo do Ado, sim, quem nunca chorou por aquela bola, mas, assim como tudo na vida, passou a dor e restou o carinho por tão dedicado profissional e homem. Ser Bangu é ter um sentimento de repulsa por aquele árbitro de nome José. Ser Bangu é amar o “doutor Castor”, e aqui não me venha fazer discurso sobre contravenção, pois todos os contraventores são errados, menos o nosso saudoso patrono. Ser Bangu é ir em Moça Bonita e sentar no lado da sombra, enquanto os adversários que se virem com o “maçarico ligado”.
Ser Bangu é… Ser Bangu é morar longe de tudo. Longe da praia, longe do Centro, longe dos pontos turísticos, mas quem se importa? Eles estão longe de nós? Problema deles. Ser Bangu é ter os melhores amigos de infância, adquiridos na Martins Júnior, na Getúlio Vargas, Presidente Médici, Leopoldina da Silveira, Nações Unidas, Milton Campos… Ser Bangu é ter, como eu, ido morar em outro local, mas ainda ter os pés, pernas, braços, cabeça e coração arraigados em Bangu.
Ser Bangu é saber que o bairro mudou, e não foi para melhor, assim como toda a cidade, mas somos apaixonados por nosso lugar, e sempre encontramos uma luz brilhante por aqui.
Enfim, não somos banhados por Pison, Gion, Eufrates e Tigre, mas, para os banguenses, aqui é um pedaço do paraíso, pois aqui é o NOSSO LUGAR!

Cláudio Medeiros

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