Língua Portuguesa é ensinada com arte em Bangu

Entre as matérias explicadas pela escrita e as diversas contações de histórias, Verônica Marcilio se multiplica em sala no papel da tradicional professora de Português e de tantos outros personagens da literatura infanto-juvenil surgidos nos contos que apresenta. A teoria da Língua Portuguesa faz parte da rotina das suas aulas, mas sempre que possível trabalha o lado lúdico do idioma para envolver seus alunos.
Para cada interpretação, a professora usa uma caracterização diferente, que vai de vestuário próprio, maquiagem e até penteado. A sala de aula também é preparada. Os alunos sentam em roda e Verônica usa e abusa de efeitos como papel picado e objetos como espadas, máscaras, coroas e brinquedos para enriquecer ainda mais a história que será contada. Durante toda a narrativa, a professora convoca a participação dos estudantes. “No final da aula apagamos o quadro com o conteúdo explicado. Quando fechamos um livro não é o fim. Continuamos através do conhecimento que adquirimos”, explica.
Dos quinze anos na Rede Municipal, os últimos cinco foram dedicados ao trabalho de contação de histórias. Lotada na Escola Municipal Jornalista Sandro Moreyra, em Bangu, as apresentações de Verônica fazem sucesso com os pequenos alunos. Mas não são só eles que tem o privilégio de ver a professora em ação. Suas narrativas ultrapassam os muros da unidade da Zona Oeste e a docente acredita que já visitou boa parte das escolas públicas e particulares do Rio. Aos finais de semana roda o país levando sua interpretação e entusiasmo.
Vestida de vermelho, Verônica reúne sua turma e conta a história do livro ‘A Rainha da Bateria’, escrito por Martinho da Vila. A narrativa fala sobre as ideias de uma mãe, interpretada pela professora, sobre o que sua filha deveria ser. Pela ótica da menina, personagem feita por uma aluna que a professora convida durante a apresentação, o seu único desejo era sambar e ser feliz.
De forma lúdica a docente trabalha a importância de cada um reconhecer a sua própria identidade. Ao final da atividade, Verônica propõe que cada estudante pinte uma máscara de carnaval e escreva o que cada um é. Questionada no que teria se fornado já adulta, a professora respondeu ser “uma escolhida”. É que a iniciativa de realizar um circuito de contação de histórias partiu de sua vivência. Verônica, hoje com 46 anos, foi abandonada no hospital com cinco dias de vida. Foi adotada por uma família, ganhou carinho, proteção e educação. Decidiu então agradecer através da literatura.
“Um dia vi uma menina pedindo para as pessoas comprarem um lanche para ela. Naquele momento tive um estalo e me coloquei no lugar dela: poderia ser eu. A partir daquele instante vi que deveria agradecer de alguma forma por ter tido uma oportunidade. Desde então me apresento de forma gratuita”, revela a professora.
Essa é apenas uma das apresentações que a professora costuma levar aos seus circuitos. Através da adaptação da linguagem, Verônica consegue contar a mesma história de diversas formas e para públicos de faixas etárias diferentes.
A professora já realizou parceria com o ator e comediante Hélio de la Peña, contando a história do livro ‘Vai na bola, Glanderson’, de autoria do artista. Também já fez apresentações interpretando personagens dos quatro livros da jornalista Miriam Leitão: ‘A perigosa vida dos pequenos passarinhos’, ‘A menina do nome enfeitado’, ‘Flavia e o bolo de chocolate’ e ‘O estranho do sono perdido’. Atualmente, a docente faz parceria com a cantora Mart’nália, filha de Martinho da Vila, através do livro ‘A Rainha da Bateria’.
Para cada apresentação ela conta com a ajuda de colegas que a auxiliam nas visitas, carinhosamente intitulada de rede de amor.
“Às vezes tenho um amigo motorista que me leva à escola ou outro que faz a fotografia. Todos me ajudam a apresentar a literatura para o maior número de pessoas. A leitura é o maior instrumento que um ser humano pode ter. A bagagem cultural e de conhecimento é algo único que só ela pode nos trazer”.

 

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