Frederick Vitilio: O Estupro: um ato doentio, um fato previsível…

O estupro da jovem de 16 anos no Rio de Janeiro por mais de 30 homens não é caso isolado, não é novidade, não é surpresa.
Ao longo de anos, milhares de mulheres são estupradas, seja nas ruas, nas escolas, nas cadeias, nos hospitais, inclusive por seus próprios maridos.
Tal crime atinge e fere o corpo, a alma, a dignidade das mulheres e a sociedade, que assiste passiva as notícias de vítimas anônimas nas ocorrências policiais de jornais e mídia eletrônica, e basta um fato que gere repercussão, vozes antes caladas e inertes se levantam em defesa de todas as mulheres, mas nada fazem para tentar minimizar esta prática reiterada, não passam de críticos oportunistas para chamar atenção. Friedrich Wilhelm Nietzsche possui uma citação que bem define esta atitude:
“Elogiamos ou criticamos de acordo com a maior oportunidade que o elogio ou a crítica oferecem para fazer brilhar a nossa capacidade de julgamento.”
Um ato doentio
– Quem estupra o faz por ser portador de doença mental, um desvio comportamental originado na maioria das vezes em sua formação, “forjado” na baixeza de uma origem familiar e social onde a permissividade, lascividade e sexualidade são tratados da forma bestial, do desrespeito ao próximo, do incentivo a libido como forma de provar sua masculinidade, sendo a mulher um objeto para lhe dar prazer por prazer.

Um fato previsível
– A sociedade cria uma dinâmica de valoração do corpo, da sensualidade, da provocação ao sexo como uma liberdade do ser. Letras obscenas em músicas, videos com mulheres seminuas sempre servindo aos homens, vestuário provocativo que “valoriza a beleza do corpo”. Nesse contexto, cerveja, poder e mulher são mostrados como ícones e troféus aos homens para serem admirados e invejados. Assim, a mulher livre, igualitária em direitos em uma luta de décadas, é tratada como coisa, objeto e a maioria delas aceita esse estereótipo nocivo e se porta como tal, atraindo o risco de ser violentada.
Soma de variáveis condicionantes ao consumo do crime
– Juntemos a campanha maciça da mídia e da sociedade em tratar a mulher como objeto de desejo sexual + A aceitação da maioria em assumir este papel de “coisa”, de “objeto” seja no vestuário, seja nas atitudes, se entregando ao personagem “sexy machine” + A frequência de locais que contêm campo propício para o estupro, como festas com drogas, bebidas, músicas lascivas = condicionantes ao consumo do crime.
Ora, a inocência foi fulminada pelo consumismo do corpo como uma moeda a ser usada para obtenção de vantagens. Todos aceitam essa “lei comportamental perversa”: autoridades, pais, mães, mídia. Nos lares as jovens para mais e para menos de 12 anos são “donas de seus narizes”, transam livremente, engravidam e se transformam em mães, crianças tendo crianças em um círculo vicioso e perigoso, cujos responsáveis quase sempre são os culpados por sua omissão e depois choram quando o pior acontece.
De nada adianta vir a público nestes momentos autoridades, instituições, pessoas, todos bradando por solução, afinal todos nós permitimos ao longo de anos o crescimento de tal crime, nada fizemos, fingimos não ver, mas lamento informar, não foram somente aqueles 30 homens que estupraram a adolescente, TODOS NÓS A ESTUPRAMOS E CONTINUAMOS A ESTUPRAR TODOS OS DIAS centenas de crianças, meninas e mulheres.
Esse fato dentro de alguns dias será esquecido pela mídia e pelas autoridades, a satisfação social será dada pela prisão de meia dúzia dos estupradores e novo fato, outro acontecimento surgirá para que o “círco” seja armado e mais uma vez no meio do “picadeiro” tais vozes bradarão.
Tenho pena de todos nós, do que nos tornamos, do que somos, um nitrato de pó do que já foi um dia a humanidade..

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